No auge das manifestações de 2013, a Folha chegou a pedir, em editorial, a “retomada da Paulista”; mas um tiro no olho da repórter Giuliana Vallone mudou a cobertura do jornal
Os protestos contra o presidente Jair Bolsonaro, em 29 de maio de 2021, reacenderam o debate sobre a cobertura de manifestações pela mídia brasileira. Enquanto Estadão e O Globo ignoraram o assunto nas capas do dia seguinte, a Folha foi o único grande jornal que destacou os atos pelo país (imagens abaixo).
A Folha fez o que manda o bom jornalismo: não contrariar ou esconder os fatos. E deve ter aprendido com erros do passado. Em 2013, o Brasil parou num movimento (ainda em fase de compreensão) que ficou conhecido como “Jornadas de Junho”. Protestos que explodiram pelo país contra o aumento da tarifa de ônibus e que acabaram ganhando uma proporção muito maior e cheios de outras demandas.
Quando os atos começaram em São Paulo, no entanto, a Folha estava claramente ao lado da Polícia Militar do então governador Geraldo Alckmin (PSDB). Isso fica claro nas primeiras capas da cobertura:
Em 13 de junho de 2013, além de destacar que o governo paulista seria mais duro na repressão às manifestações, a Folha ainda defendeu, em editorial, que era preciso “Retomar a Paulista”.
Neste mesmo dia em que o editorial falava em “força da lei” para acabar com as manifestações, a repórter Giuliana Vallone, que cobria os protestos pela Folha foi atingida no olho por um tiro de bala de borracha, disparado por policiais militares. O jornal, então, mudou a radicalmente de postura diante dos atos.
Este triste ponto de virada na cobertura da Folha sobre as manifestações de 2013 foi lembrado no episódio 19 do Nós da Imprensa, em que conversamos com a diretora do El País Brasil, Carla Jimenez. O tema foi justamente o destaque (ou a falta de destaque) dado aos atos contra Jair Bolsonaro em 29 de maio de 2021.